quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mergulhar


Penso na desarmonia sútil
que existe na linha tensa
da nossa vida.

É corda bamba perigosa,
passeio no precipício.
É o prólogo da harmonia no fim.

(Alan Félix)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

7 Pecados: O desejo da luxúria



O salto agulha, o vestido negro como a cortina da noite, sentou oferecendo aos olhos famintos a perna crua. A visão dos homens que ali estavam criaram pênis, tais pênis-óticos profanaram as pernas nua da mulher. Tais mortais entretanto não sabia que se tratava da luxúria pedindo esmola.

Alan Felix

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Contramão


Parte do meu coração é chegada,
outra é despedida.

Porém, existe uma travessa no meu coração,
é nesse lugar que aguardo.

(Alan Félix)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Deslizamento


A cada dia rola
uma pedra de amor em mim.

As vezes é deslizamento que soterra o outro.

(Alan Félix)


Poema dedicado a Caroline Prates. Inspiração que nasceu do seu blog.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Perpétua


Perpetua na palavra
sua existência,
a morte é a certeza
do esquecimento.

No cortejo fúnebre
da sua vida,
o que lhe resta é a escrita
numa lápide.

A palavra
é o sinônimo da sua vida,
que caracteriza o imaginável ser.

Jaz a palavra de
um homem,
e o mistério que cerca-o finda.

(Alan Félix)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Inércia


E da doce saudade do meu sentir.
Sinto que não sentirei jamais o amar.

(Alan Félix)

domingo, 31 de outubro de 2010

Mensagem de Formatura


Falta-me palavra quando deveria ter. O que é expressar um vôo da vida. Eu voei alto porque tinha um grande par de asas. Alegria, tristeza e solidão sendo lavada no Paraguaçu. Neste terreiro de paralelepípedo colonial encontrei parte de mim. Aprendi o significado de família, a conjugar distância, a ser solitário. Aprendi no momento caótico do ser, ser homem de mim. Algumas vezes eu fui pai, mãe, amigo e irmão de outros. Neste mundo refugiei atrás da fumaça e da bebida, querendo que a força descesse garganta adentro ou a saudade queimasse no dedo. Porém, tive alicerces que me ergueram até esse momento que são minha mãe (Luisa), meu pai (Osmar), meus avôs (Alberto, Ignez, Eunice e Lindomar), meus irmãos (Washington e Mariana), meus amigos (Thiago, Paulo, Carol, Lorena e Leila), meus familiares, meus colegas de vida e curso, a minha namorada (Mayra) e minha filha (Melissa) que está vindo ao mundo. A essas pessoas que agradeço muito!


Alan Félix

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cardeais


Qual o nosso rumo?

Os seus passos migram para o N
Os meus abraços migram para o S

Os seus olhos nascente preferem o E
Os meus olhos poente apontam para W

Nem as rosas que colhemos
no vento
sabem o nosso rumo.

(Alan Félix)

sábado, 25 de setembro de 2010

A Mar


Me afoguei
com tanto a mar
dentro de mim.

(Alan Félix)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quadros


Penduro na parede flash
de momentos, fragmentos,
retalhos surrado de felicidade.

Exponho a galeria da memória consciente
de tudo que tive
e perdi na presença do egoísmo.


(Alan Félix)

sábado, 11 de setembro de 2010

Out Outono


Outono

OUT ON Outono

Outros tons, Ou to no.

(Alan Félix)

domingo, 29 de agosto de 2010

A Linha


O nevoeiro da manhã cortina o dia que nasce. Esconde as fantasmagorias do viver a manhã fria da semana.
O cotidiano transcreve a vida dos comuns.
No quarto do apartamento a rotina emoldura a vida do casal. A banalidade corriqueira do relacionamento a dois. O processo mítico do enredo ensaiado das relações interpessoais.
Vivia dessa maneira Fernando e Raquel.
É uma trama trivial da insignificância da vida. Porém, desperta a curiosidade de terceiros para a trágica fatalidade do amor.
O amor é uma célula invisível que se multiplica na parede do destino infectando a racionalidade primaria do homem. A ira condensa em muralha mágica erguendo verdadeiras fortalezas impenetráveis.
Somos passageiros em busca de saída ou entrada secreta para o mundo maravilhoso do amado. Sutilmente, Fernando adentrou na vida de Raquel.
Paixão.
Desejo!
O cotidiano sendo escrito na linha bamba do destino. O amor colocou sua máscara e contracenou na vida de ambos.
O sexo sacro da comunhão entre o animalesco e o divino. Silêncio. O recorte do momento fotografado pela circunstância da vida.
Raquel alterada gritava sobre o relacionamento. Fernando gritava sobre o relacionamento. Uma constelação de ofensas eclodia no céu da sala.
Irritado e desenfreado o homem pegou seus pertences: uma mochila, uma chave de carro e o celular.
Palavras chave para um clímax romanesco de folhetins do século XVIII. Mas, a contemporaneidade não permitia tal cena. O infortúnio é a porta voz do momento. A crueldade urgiu nas sinaleiras verdes das ruas. Acelerando freneticamente o carro, Fernando, rompia todos os limites da ordem social. Neste instante as regras de sociabilidade são ignoradas.
O celular toca uma música de identificação instantânea da amada (Non, Je Ne Regrette Rien). 100km por hora. Coloquemos como aditivo a raiva momentânea. Pronto, tem um homem desorientado nas vieras da cidade. O olhar aguçado espreitando um lugar para estacionar. O celular vibrando como um corpo em convulsão.
Noutro lado da linha Raquel com um papel na mão aflita. A sala da casa traçou uma trilha cíclica de idas e vindas.
O homem na solidão urbana, estaciona o carro próximo ao beco escuro. Ha frente uma placa de identificação da rua.
Estende a mão.
Atende o celular.
O suspense das palavras pensadas e não expressadas. O murmúrio da voz de Raquel tocada em dó menor.
Estilhaçado o vidro do carro, um sujeito de capuz aponta uma arma para cabeça de Fernando, o movimento assustado, o grito da mulher ao telefone.
A cor vermelha pinta a tela daquele momento, e a voz da mulher pincelando a informação da gravidez. A surdez da morte instala-se naquele ato. O vulto adentra a escuridão urbana. E o corpo agonizando sob o volante.
Rebobinando a microfilmagem daquele romance. O inicio da discussão no apartamento e a tentativa da palavra contida por Raquel, terminou não sendo impressa na linha bamba da vida de Fernando.

(Alan Félix)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Felicidade Secreta da Rainha

para Ohana

A felicidade para ela possui vozes secretas.
A catedral da felicidade tinha na fundação os amigos. Falava pouco, expressava menos ainda, mas vivia muito. O muito não significava quantidade, pois a quantificação era sinônimo de pouco na sua vida, e o pouco a deixava feliz.
A migalha de pequenos sorrisos simbolizava uma riqueza extrema. Tesouro que para outros não tinha valor algum. Mas aos seus olhos representava um montante, cujo valor compraria bens imateriais infindo.
Nunca tivera o amor da mãe. Em certos momentos causara dor, agonia e tristeza. Apesar disto, sempre andara saltitante pelas pedras esmigalhadas que chamava de caminho. Aos pouco as escolhas corriqueiras arrastavam para longe do lugar que familiarizava denominar casa.
As rotas coordenadas pelas decisões prematuras a levaram para geografias distantes. O longe comprimia as novas vivencias que aprendeu a engolir a seco. O que descia garganta abaixo arranhava o poço da laringe, causando rouquidão e soluços intermináveis para felicidade.
Vestia de farrapos cativantes de alegria, apresentava-se soberana perante os estranhos. Estrangeiros deformados que se tornavam amigos.
Captou os sonhos hermenêuticos que peregrinava no limbo da sua fantasia. Alegorias apaixonadas de vontades intrínsecas. A única bagagem que carregava estava repleta de garrancho escrito sobre a fadiga desventura que fora a vida.
Desencontrada no encontro do descobrimento próprio, esforçou-se em catar os farelos de oportunidade que o novo habitat proporcionava. Reconheceu o amor logo que o viu. Consciente do sentimento que sentira pelo homem que conheceu, distinguia nas suas formulações compreensão que não se tratava do homem que amava, mas do homem que escolheria para viver. Compartilhou a tragédia que viveu, deu sossego e desassossego.
Experimento o prazer da permissividade as pessoas que habituou a chamar de amigo. Eram pouquíssimas pessoas davam para morar nos dedos das mãos. Mas o pouco sempre fora muito para ela. A pequena quantidade de alma que o novo habitat proporcionava finalmente trouxe felicidade para a catedral da sua alma.
As pequenas ambições que detinha simplificavam em 22 livros que adquirira num sebo. Quem olhasse para aquela menina acharia cômico à loucura do sentido da felicidade para ela. Quem poderia julgar seus desejos? Já que estava feliz com o suficiente que conquistara. Naquela noite retornou para casa, para família que construiu, naquele momento a mudez teve a expressão do sorriso.

(Alan Félix)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Anjo Caído em Busca de Luz e Fé


Sou sua imagem e semelhança
nasci pra ser perfeito
mas não compreendi direito.

Pisei na nuvem errada
cai no céu vermelho
preso entre ideologias
continuo com minha filosofia.

O messias do lado errado.

Faço minha jornada
em busca de luz e fé.

A vela não ilumina meu caminho,
a prece só atrapalha meu destino
só um errante em busca de luz e fé.


(Alan Félix)

domingo, 8 de agosto de 2010

"Ninguém Vai Nos Segurar"


Mostra-me o dente amarelado
e o copo pelo meio da cachaça.

Embebeda tua alma desgraçada
e segue rodopiando pela calçada.


Chama de puta tua amada
e dar uma bofetada na descarada.

Engole aquele pão com água
e agradece o banquete que te farta.


Segue solitário na tua estrada,
somente quem te acompanha é a garrafa.

Esquece o cachorro que te afaga,
na vida nem um gesto de amor lhe acalma.



(Alan Félix)

sábado, 7 de agosto de 2010

Terreiro



O chão do quintal tremia
e os trovões que rogam, rugiam.

A bandeira firme erguia
a fé branca aos céus.

O cântico dos atabaques,
e uma velha a saudar "Kawô kabiecilê!"..

(Alan Félix)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tudo que Escrevo


Tudo que escrevo é líbido. É uma essência erótica que evapora no dedo. Tudo que escrevo é orgasmo. É a arte de manipular os movimentos da mão num voo prazeroso no papel. Tudo que escrevo é masturbação. É a técnica frenética de pulsação da poética latente. Tudo que escrevo é espasmo. É a conturbação da mente na ejaculação de ideias. Tudo que escrevo é alma. Por isso que morro em cada ponto final.

Alan Félix

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tormenta




O que adianta o mar
si as lágrimas são salgadas
e tempera minha pele fraca.

Quantas tormentas virão
até naufragar as caravelas do meu dia.
Quero a tranquilidade dos rios
e doçura de suas águas a banhar minha face.

Não quero os trovões da violência,
os tsunamis da vaidade,
os recifes da insensatez.

Tenho a fragilidade dos barquinhos de papeis machês,
a candura das baías calmas,
e a festividade das marolas a lavar os pés.

(Alan Félix)

domingo, 1 de agosto de 2010

Nove Meses


Hoje atônico brinco de deus.
Dentro daquela mulher crio o mundo,
homem e o amor.

Aprendi com a palavra à expressar
os uivos dos demônios.

Aprendi com a vida à reproduzir vida,
a criar como deus, a amar como homem,
e chorar como criador.

Dentro daquele oceano de mulher,
mora um deus, um poseidon, uma criança.

Durante nove meses o pecado fica divino,
e as águas que o cercam secam,
e a inocência vem ao mundo - e chamo filho!

(Alan Félix)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Prêmio Dardos


Recebi esse selo da Ulli Uldiery do blog Ventos Uivantes . Muito obrigada!

Regras:

1. Colocar a imagem do selo em seu blog;
2. Pôr o link do blog que te indicou;
3. Indicar 10,15 ou 30 blogs ao prêmio;
4. Comentar nos blogs indicados sobre a postagem e sua indicação.

Indico os selos aos blogs:

01. Poética-Mente-Marginal
02. Todas Eu
03. Paranóico
04. A Terça Parte
05. Caixa Preta
06. Trilho, trago e assopro no ar
07. Jovem Gengibre
08. Jardineiro do mundo
09. Dezessete e poucos anos
10. Ócio Reativo

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dia & Ana


O dia amante, seduz.

O dia Ana, conduz.

O diamante, Diana, reluz.

(Alan Félix)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Passarada


O amor é pássaro a cantar.
Eu, vivo a silenciar.

(Alan Félix)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable


Recebi o selo de Augusto Dias, criador do blog: Tudo de mim. Fico honrado de estar recebendo um selo dessa importância principalmente de poeta com um trabalho fantástico.


Este selo tem um valor simbólico premiativo, que homenagea poetas e literatos que transmitem valores culturais, éticos, literários e mais importante experiências pessoais que resignificam o cotidiano daqueles que o ler. Assim, por meio da escrita, da imagem e de sons engrandecem e enriquecem o dia de quem aprecia uma leitura marginal de atores anônimos da nossa cultura.


Tradicionalmente aquele que recebe e aceita o selo, "Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable", deve seguir as seguintes regras:


1. Exibir a Distinta Imagem;
2. Apontar o Blogue pelo qual recebeu o prêmio;
3. Escolher uma quantidade de pessoas de sua preferência e a um blog de cada pessoa escolhida oferecer o “Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable”.


Oferto aos blog's que admiro e olho daqui...

1. Truques, poesia e confissões
2. Penetra surdamente no reino das palavras
3. Caixa preta
4. Ma Petite Cachette
5. Trilho, trago e assopro no ar
6. Ócio Reativo
7. Descobrindo o mundo
8. Segredos da Anitha

sábado, 24 de julho de 2010

Andarilho


Eu ando sobre o tempo.
O tempo pesa em mim.

Toda manhãs acordo para o dia.

Mas o dia não se apresenta para mim.
E a solidão me dá bom dia.

(Alan Félix)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A Presença


A tua presença invisível...
o cheiro é visível
dos abraços ilusórios,
apenas a saudade carregada no ar.

O vácuo sendo presença,
sentença dessa solidão
de prontidão
diz adeus a minha ilusão.


(Alan Félix)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Luna



E na frágil delicadeza
dos teus olhos
a noite dançava acanhada
na valsa da sua retina.

A tua alma clareava
como a lua na pupila dos meus olhos.
Meu coração fazia serenata
na disritmia do nosso olhar.

A melodia que escorre
da voz dos olhos teus,
propaga no abismo do meu coração.

(Alan Félix)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Vírgula e Segredos


Escondo entre uma vírgula e outra todos meus segredos, no ponto de continuação confesso meu medo de seguir suas linhas, mas nas reticências dos meus pensamentos prolongo os parágrafos da vontade, e digo em prosa e versos, as palavras mortas que agonizam em mim, e assim me escrevo em folhas que nunca sentir fragmentos de mim, para você ler.

(Alan Félix)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Palavra de Vela


Quando o mar da boca
tornar sertão.

Apagando a palavra
fogo de vela,

e o candeeiro não mais iluminar
os ouvidos dos poetas.

Tornaram-se pedras as palavras dos poetas.

(Alan Félix)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Falando da Saudade


A saudade é moinho que movimenta-se
com as águas dos meus dias.

(Alan Félix)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cartas sem destino.


Querida Elnora,

O amor foi muito para mim, sempre um fardo, uma maldição titânica de carregar o mundo.
E hoje quando me abraço é sinal que sinto a saudade em mim.
O tempo se fez presente, e a vontade de falar do gramado no jardim é constante. Queria a suavidade do seu perfume, aliviando o peso do ar que respiro. Tem muito em mim que quer verbalizar. Ultimamente a parede anda muda, e a mudez assusta, pois é presságio da solidão.
Não quero me sentir sozinho. Já vivi muito tempo dentro de um casulo, hoje quero voar com você sobre as flores que cobre teu corpo, tuas flores preferidas.
Quero rememorar os perfumes que exalam das superfícies lunares dos teus olhos.
Abre as janelas que cerram ao adormecer, permita que seu corpo seja refúgio do meu.


(Alan Félix)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Moldura



Na moldura do meu corpo nu
teus seios pincéis
pintam nosso quadro noturno.

(Alan Félix)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

ConchaMar


Guardo no peito conchas do mar,
que ao você encostar teu ouvido,
ouvi o som do a-mar.

(Alan Félix)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Oceano Branco


O mar branco apareceu

inundando o céu

meu pesadelo cresceu

sonho se distorceu

mostrei o monstro

que habita no meu eu.


As gotas de chuva pararam

o vento soprou melodicamente

o florescer das plantas decompostas

vejo-me, vejo-me

desfazendo-me,

virando a ultima lágrima

que é pela mãe Gaia.


(Alan Félix)

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Barro da Educação


É uma manhã de junho, o sol floresce no morro atrás de minha casa, meu pai acorda cedo para ir na oficina e iniciar o processo de fabricação das esculturas em barro. Tal técnica de produção artesanal foi ensinado de geração em geração.
Recordo-me que meus amigos aprendiam com os pais o processo de produção de vasos, jarros e panelas de barro para ser vendido na feira do porto na cidade. Era uma época de conseguir uma renda extra para manter a alimentação da família durante os dias subseqüente do ano. Paralelo a esse aprendizado de esculturas em barros, íamos a escola na zona rural da cidade, os professores sempre gentis e educados ensinavam sobre os mais diversos assuntos que diziam ser do nosso interesse e fundamentais para nossa educação.
Nesse processo da escola, eu, odiava as aulas de História que era oferecida pela professora Guilhermina, ela forçava decorar datas cívicas, ensinava a história sobre um mundo que ia além do nosso pequeno vilarejo. O mundo para mim ia da cerca ao norte da roça de Sr. Inacio até o córrego que banhava-me toda manhã. Esse era o mundo que conhecia, essa era a história que eu sabia por meus avós contarem na varanda da casa, isso que me pertencia.
O tempo passou como as águas de um riacho, como as ondas das mares que sempre ouvir o professor de geografia falar e nunca vi. Notava que ao crescer algumas tradições do processo de produção artesanal do barro foi esquecido pelos jovens do vilarejo. Nesse momento já havia conseguido ingressar na faculdade, fui aprovado no curso de história. Engraçado que era a matéria que odiava. Contudo, queria aprender o porque não falavam da história que meus avós contavam.
Deixei aquele meu pequeno mundo e fui morar na capital, conhecir uma realidade diferente da minha infância. Durante a faculdade tive uma disciplina chamada Estágio Supervisionado III, nessa disciplina acabamos lendo a obra Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire.
Compreendi a partir da leitura da sua obra que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Que o discente é a única razão do docente estar ali, mas ensinar exige rigoroso metódico, não deixando escapar nenhum detalhe em seus discentes, e deve despertar no educando a curiosidade e capacidade crítica, ensinar exigia pesquisa, não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, busco o ensino porque perguntei e porque pergunto. Pesquiso para constatar, aquilo que já sei, educo e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
Aprendi que ensinar exigia respeito aos educandos, exigia criticidade, deixar de ser ingênuo e passar a ser crítico, mas no sentido de ser curioso, seja em forma de pergunta ou não isto gera o fenômeno da aprendizagem, ensinar exigia dar vida às palavras pelo exemplo, o professor que não consegue traduzir aquilo que diz em exemplos práticos, de nada serve o que ele fala, saber quer dizer segurança no que diz.
A cada palavra que lia na obra de Paulo Freire, percebia o descaso de alguns professores no comprometimento com o ensino, com a aprendizagem, coma docência, começava a entender o porque não davam valor a minha cultura, pois não entendiam que ensinar exigia risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, exigia o reconhecimento e a assunção da identidade cultural, exigia consciência de que nunca esta acabado e sim que tudo recomeça, exigia o reconhecimento de ser condicionado, exigia respeito à autonomia, exigia bom senso, exigia humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores, exigia entender a realidade e não ficar alheio a ela, exigia a convicção de que a mudança é possível, exigia segurança, competência profissional e generosidade, exigia compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, exigia liberdade e autoridade, exigia tomada consciente de decisões, e saber escutar que é muito importante e ser aberto ao diálogo, exige reconhecer que a educação é ideológica, exigia querer bem aos educandos, e por fim exigia alegria e esperança, nos homens que fazem as leis deste pais e na instituição família que apesar de tudo continua sendo um porto seguro para aqueles que não entendem e não aceitam as violências praticadas por quem tem o poder o conseqüentemente a força.
Aquelas idéias romperam minha alma, incendiada por um desejo de mudança, queria retornar ao meu vilarejo e intervir naquela realidade, demonstrar a importância do saber histórico escolar daqueles educandos, respeitando e dialogando com o saber que já possuem pela realidade social em que vivem. Queria lutar por melhoria para a classe docente, queria mudar aquele vilarejo, pois assumir uma ideologia em relação a educação daquele vilarejo que estava abandonado pelos dirigentes do país.
Após a formatura, retornei para o meu mundo, tornei-me professor da escola em que eduquei-me. Iniciei o processo de mudança que tanto o professor Paulo Freire ensinou. A disciplina de história foi o instrumento que utilizei para por em pratica algumas das concepções de Freire e atrelado aos que os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e PNE (Plano Nacional de Educação) exigiam nas suas diretrizes.
A partir da disciplina de história tentei desenvolver as competências e habilidades indicadas pelo PCNs para o ensino de história. Busquei construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do reconhecimento do papel dos alunos nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto dos mesmos, assim atuando sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos “lugares de memória” socialmente instituídos.
Queria com isso resgatar o valor da tradição de fabricação de artesanatos com o barro. Porque ao investigar e pesquisar, notei que aquilo remetia ao passado histórico, produto de uma comunidade de ex-escravo que utilizavam dessa técnica para sobrevivem na sociedade pós-abolição. Fazendo esse regaste desenvolveria a concepção de Freire, que nossa presença no mundo não é a de quem nele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História.
Compreendia que fazer esse resgate da história do vilarejo em que vivo, notei que estaria dialogando com o que o PNE trata num dos seus artigos que devemos organizar a educação básica no campo, de modo a preservar as escolas rurais no meio rural e imbuída dos valores rurais. Esse valor rural, que é um valor cultural estava sendo respeitado, ou seja me respeitava enquanto sujeito e os meus discentes, pois a questão da identidade cultura é fundamental na prática educativa e tem a ver diretamente com assumir-nos enquanto sujeitos.
Desta maneira, formei indivíduos que se realizem como pessoas, cidadãos e profissionais. A escola foi muito mais do que um simples ambiente de transmissão e acúmulo de informações. Tornou-se um espaço de experiências concretas e diversificadas, transpostas da vida cotidiana para as situações de aprendizagem. Porque educar para a vida requer a incorporação de vivências e a incorporação do aprendido em novas vivências.
Assim, resgatamos a memória histórica do vilarejo, os discentes tornaram-se seres críticos de sua realidade histórica, tornaram-se autônomos de seu saber, e conseguiram valorizar a tradição que tanto rejeitaram, por tomar consciência do valor que aqueles signos tinham para sua cultura.
O futuro é uma chama que não sei o destino, naquele que resolvi mudar, tornou-me um barro de Naná, e os discentes que eduquei foram pequenas massas de barro, que a educação transmitida e refletida por eles os moldou, e obras artesanais tornaram-se, o sol que o secaram e os engessaram foi à autonomia, a autonomia do saber próprio e histórico.


(Alan Félix)


p.s: Conto escrito para materia de Estágio Supervisionado III, objetivo discutir a obra de Paulo Freire, "pedagogia da autonomia". E escrever um texto sobre porque querer ser professor de história.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Recente Árduo Amor



Meu corpo vela minha alma
Meus dias se findam nessa triste história
Um amor impossível que significa tudo
Meu fim, minha alegria e tristeza infinita.

Nem belas palavras saberiam explicar...
Essa dor no peito a me matar
Mas como é preciso viver
Pois de vivo para não morrer
Mas meu coração se foi há muito tempo
Esse é meu triste desalento

Por mais impossível que pareça
Existir tanto sofrimento
Meu pranto existe e não acalma
Um só momento,
Só quando durmo adormece o meu tormento.
A vida é cruel com quem ama
Chorar até que venha enxugar minhas lágrimas
Então chorareis de alegria e não mais de solidão

(Alan Félix)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Desaguar do Amor


para Karine Simões

Teus olhos
caleidoscópio
refletem os espelhos
de tua alma.

Produzem
impressões afáveis
nos subterfúgios
do meu corpo.

Entranha nas raízes
do meu coração
as palpitações infinda
do teu querer.

Vertendo
um rio de desejo
que deságua
das tuas veias.

Despejando da tua boca
uma cachoeira
de grânulos de amor.

(Alan Félix)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Me Leve


Me leve
Me leve
Me leve

Leve
Leve
Leve

na leve bruma
do teu cantar.

(Alan Félix)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jardim de Flores


Costura os teus lábios
no contorno incerto
da minha boca.

É vasto o jardim
de flores bailando
na babilônia dos teus olhos.

Dispersa as cores
dos teus olhos em borboletas
que se abrigam nos canteiros
da minha pele.

(Alan Félix)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

En(laço)


Laço
tuas raízes em minhas pernas.
Encravo
meu aço na tua rosa.
Enlaço
nas correntes fluidas do teu sexo.
Melaço
o teu eco com açúcar.



(Alan Félix)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Amor das Sombras


Fechos os olhos,
mas meus olhos ainda
não conseguem ver além
o além.
Só sinto você.

Sete palmos abaixo da terra
Me ordenando
Me sucumbindo
Me sufocando.

Invade meus pensamentos
Até os mais obscuros
Revira meu passado que é seu
Adormeço em sono profundo.

E tenho pesadelos
Neles você toma forma
Se empenha em me assustar.
Eu sei o por quê
Você nunca deixou de me amar.

(Alan Félix)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Rachadura


Despedaça a velha rachadura
do muro-lábio.

(Alan Félix)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ode da Paixão


O que canta
o canto dos teus olhos.
O que murmura
os cílios acanhados da tua face.

Existem signos indecifráveis
nos campos dos teus lábios.
É rubro como o ardor
que corre nas minhas veias.

Pulsa um universo
dentro de mim
ao encontro do teu corpo nu.

E na nudez
das tuas palavras
faço meu abrigo,
quem sabe ninho.

E cantamos feito pássaro
na amplidão do céu,
e abraçamos as nuvens
no silêncio de nossos corpos.

Meu bem, que constelação
nos guarda na noite calma
de nossas camas.

(Alan Félix)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Zódiaco - Áries


O ar ares áries do meu corpo,

é cálice de fogo,

banha o mar amar-te marte do teu gozo.

(Alan Félix)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cartas sem destino.



Querida Elnora,

Ao longe através da janela vejo o céu brincando com os espectros das cores, abaixo observo casa, luzes e a escuridão.
A primeira estrela germina no anoitecer.
A nossa antiga casa nos contempla nessa noite, você voltou a perfumar os cômodos trazendo vida para as velhas fotografias.
Por uma noite a rotina pretérita fez-se cotidiana, a conversa, o abraço, o beijo, você em mim, eu em você na cama desértica.
Acredite por essa noite você tornou-se o melhor abrigo que poderia existir em três meses de exclusão da sensação de bem-estar que alguém poderia causar. Lógico, isso seria imprescindível, pois conhece cada centímetro do corpo que bebeu.
Embriaguei-me no vinho seco que é você.
O melhor é que amanheci sem ressaca, o coração tagarela zumbia forte ao abraçar-te na despedida, tenho nos meus olhos seu corpo fotografado.

(Alan Félix)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Nunca mais...


Nunca mais
sentir um beijo.
Nunca mais
recebi uma flor.
Nunca mais
beija-flor.

Voou, voou de tanto vê a dor.

(Alan Félix)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dia Amante


para Karine Simões

Bruto
Bruto
és o diamante
dos teus olhos
que lapida-me
com um olhar.

Tua voz labirinto
faz perder-me
nas sensações
dos timbres oculto
do teu coração.

As passagens
predestinada por Deus,
é ventura para os
sentimentos forjados
no ardor do meu coração.

Que cora a cor
da emoção
que pinto na tela branca
da tua face.

(Alan Félix)

sábado, 3 de abril de 2010

Águas de Março

Estranha essas águas que rolam
dos poços de seus olhos.
O mundo do qual brotam
essas águas é, escuro e turvo.

Têm suas margens
sempre languescidas,
as nuvens dos teus cílios
são negras e ofuscantes.

Essas águas carregam tristezas,
é uma correnteza de alívio
que lapida nas grutas dos poros,
pequenas ilhas de sossego.

As águas que fecundam
a pele quente e ardente,
tem nas suas nascentes,
verdades e segredos

que aprisionam nos cristais escuros dos olhos.

Quando transbordar
em lágrimas o mar
que carrego nos olhos,
é que a vida já me trouxe
muitos naufrágios.





(Alan Félix)

quinta-feira, 1 de abril de 2010


para Alan Félix


Grito!
Não consigo fugir do que sinto.
Paro.
É simplesmente irrefreável.
Nego...
Mas me atormenta.

Você,
Me roubou,
Paralisou,
Inundou minha alma.

Pergunto...
Porque tens que ser tão encantador?
Questiono...
E se eu me entregar?
Ainda sem resposta.

Mas, quero estar contigo.
Sentir seu cheiro,
Teu toque... suas mãos suadas.
Ver teu cabelo desgrenhado.
Teu sorriso bobo.

Concluo: adoro-te!


(Autor Anônimo)

quarta-feira, 31 de março de 2010

É de lágrima, sonhos e papel


É de lágrima o mar
que fiz para navegar
para longe de você.

Foram de sonhos
a terra que acreditei
existir além da praia escura
de seus olhos.

É de papel
o barco que construo
para dizer adeus
a enseada do teu corpo.

(Alan Félix)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

O porto da cidade anda vazio, há tempo que não sento no chão de pedra polido por nossa história.
O tempo anda chuvoso, porém são de verão meus olhos.
Os sóis das retinas queimam fortemente nas pupilas desgrenhadas da saudade, meus cílios são campos de sal iodeto que inibe o rio das lágrimas cursarem na minha face.
Caminho com pés descalços para sentir a frieza das pedras e imaginar os sentimentos delas por não terem alguém que a esquente.
O meu corpo é uma pedra desgastada pelo atrito das emoções, cujas ondas dos sentimentos erodiram com o tempo.
Primeiramente o coração rochoso ruiu até virar areia, o vento soprou empurrando a poeira para as correntezas da desesperança. Desse momento em diante perdi o brilho latente que existia na pedra-coração.
Assim tento lapidar-me quietamente nas mãos adestrada da vida.
Qual a forma que terei?
Certamente, tornar-me-ei algo irreconhecível e bruto, pedra solitária da construção da alvenaria de algum edifício que arranha o céu.
Talvez nesse deposito de pedra invalida, eu encontre alguma outra pedra solitária, assim possamos ser estrada para futuros amantes.
Espero que nesse cemitério de pedras seja você a minha pedra gêmea que por várias vezes serviu de companheira nas margens daquele porto.


(Alan Félix)