quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Manhã


Toda manhã na esquina dos seus olhos vejo a vontade sensível de abraçar o infinito. Insustentável conter o indomável enigma do amor. Todos os dias são resquícios do afeto que vivemos ontem. Às vezes remanesce algo indecifrável, impenetrável, inacessível para o presságio da existência.

A cada manhã, despedaça as sonolentas lembranças mal vividas, e os temores fúnebres da solidão. É difícil aliviar a noite murmurante de clausura prematura da nostalgia. Não somos educados em suportar as amargas vísceras da perda. O luto é uma sentinela intacta do cotidiano, conserva-se nas tardes de nossa vida para consolar a solidão.

Alan Félix.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Rosáceas


Rosas brancas,
Rosas negras,
Rosas indígenas.
Foi num pomar que nasceu o Brasil.

Alan Félix

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Morena


Ah! Morena,
transborda nas lágrimas a saudade
no canto dos seus olhos
eu canto, um cântico de prece
recito ao divino uma reza
acendo uma vela e velo por você.

dorme para mim as tristezas
sintoniza as frequências do coração
algum coração toca para ti,
algum coração é uma canção.

desfaz a dor na quietude das lágrimas
lava as memórias despertadas nas manhãs ensoladas
reserva a delicadeza e o voar da borboleta
é frágil as pilastras do vento que desmancha.

Alan Félix.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Vênus de Mel


Olhos cristalizado de mel.

Abelha retratista
desenhaste tão linda face,

com ferrão bronzeado do sertão,

moldando tão bela Vênus
do norte.

Qual a cor do teu pecado?

Teu pecado tem a cor
que fagulha o sol do Nordeste.

O azul cintilante da chama do mar
da ilha do amor

O mel que adoça meu viver.

Dama de olhar murmurante,
lábio entorpecente e toque embriagante.

Afrodite da cor do pecado do mel.

Olhar escarlate penetrante
como antares.

Que leve toque do teu lábio roubou
minha alma agreste.

(Alan Félix)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A chuva, a vidraça e um instante do tempo


A chuva vagarosamente cai na rua, e pelo vidro vejo o mundo embaçado. Desenho lembranças de momento no vidro. O tédio incorporado nos infantis desenhos. Num momento de distração, ou seja, quando navegamos num barquinho de papel nas correntezas inóspitas das águas brotadas das cachoeiras das calhas. Imaginei um semblante, um toque e um olhar. Diante de tantas distrações logo um amor já muito adormecido, um vestígio histórico de que um dia sentir amor a outro homem.
Pronto! Cá estou pensando em Fernando. Nada demais em pensar num ex-amante. O problema é pensar que ele significou a descoberta de quem sou. Nesse momento que questiono se tudo que vivo é decorrente daquele toque, olhar e semblante. Talvez, acredito que havia algo alinhado no nosso destino, que acarretou nesse desatino de me assumir quer sou. E pensar em quem sou é caótico, tempestivo e vertiginoso.
A personalidade que edifico é como a chuva, num momento branda e suave banhando a pele ressecada das angustia cotidianas. Desta forma, trago uma essência de renovação ao abraçar o próximo. Ao pensar nessa analogia, noto que trouxe esperança ao solo árido de Fernando. Enfim, noutros momentos sou tempestade, chego sem anunciar, destruo e inundo todas as veredas do corpo alheiro, deixando a calamidade na alma.
Não acredito, por isso que Fernando sumiu da minha vida? Eu carreguei tudo de bom que habitava nele, inundei sua vida de esperança, encharcando o solo de sua felicidade, a ponto de embebedar toda grandiosidade transformando num solo infértil.
Quem eu sou? Nesse momento de reflexão ocasionado pela chuva que desejo o latente nos céus convidando a viver o que não sei de mim. Bocejo na vidraça e apago os desenhos e as recordações, enrolo nos lençóis com Rodrigo e assisto a um filme. Amanhã noto que algo novo pode recomeçar como uma bonança que adentra a fresta da janela.

Alan Félix

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Anarquia


Amar é Estado sem governo, total anarquia.

Alan Félix

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Alquimia


Pergunto-me, porque Deus apresenta-me algo que não posso viver. Dar amores que não posso amar, e os amores que posso amar é apenas miragem do meu desejo insaciado. Perco-me na dúvida de sentir. O que realmente de verdadeiro pulsar dentro de mim? Porque os sismos desencadeados a cada pessoa têm intensidades vibratórias oscilantes? Oras, são tremores infindos que desmorona meu coração, e oras, são vibrações superficiais e ilusórias. Apego-me ao ilusório na esperança de conjurá-lo em real. É transformar num processo alquímico o ferro da paixão em ouro do amor. A falha, a falha, a falha sempre se fez presente em mim. A alquimia transmuta a paixão num cárcere de juras, promessas e inconseqüências. Assim, prendo-me em amarras pessoais, nas quais os nós apertam sufocando.

Alan Félix

domingo, 16 de outubro de 2011

O Barulho e o Silêncio


para Lorena Andrade


Sempre vivi com os barulhos das coisas: o coração batendo, a respiração ofegante, a gargalhada estridente e o beijo estralado. O barulho sempre teve uma desarmonia graciosa, uns timbres desconfortantes e irritantes. A criança quando nasce imediatamente faz baralho, é sinal que a vida foi inspirada no respirar. A tristeza trás consigo o barulho das lágrimas e o ruído do soluço agonizante de exorcizar toda dor e aflição. A chuva quando rega a terra com prosperidade e calamidade também trás consigo o som. O som é transcendental, é a origem primeira de tudo, é a gênese lancinante da origem divina. No entanto, o silêncio inebria a vida com a suavidade de suspirar. Na obra mais divina do homem, o silêncio sempre esteve presente no embriagante amor. O amor embebeda de silêncio o ser, é sorrateiro, contagioso e desassossega os barulhos do corpo e da alma, faz da surdez uma benção enlouquecedora. Por isso que amar é silenciar o coração e o respirar.

(Alan Felix)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mormaço


O mormaço deitasse sobre a cidade, aquele dia que o sol ensaia aparecer, e a chuva desfila tímida nos espaçamentos do dia. O que incomoda de verdade é o mormaço, nem tanto a incerteza do dia em ficar amarelo ou cinza, a tonalidade das cores sempre me atraiu. Mas, o desencanto é remeter o mormaço a paixão agonizante que vivenciei alguns meses. Nossa como alguém pesava tanto dentro do coração e incomodava de viver, respirar e sentir. Porque nada é mais vibrante do que respirar. Não é por acaso que a liberdade sempre é compreendida como um suspiro. Não desvendei os segredos do suspiro, mas sinto a cada suspiro, um mergulho desconhecido nos mares íntimos do corpo, o prazer rápido e silencioso. Num instante entre respirar e expirar desencadeia um balé frenético do universo, e nesse gesto deprimente encontramos o que de mais voraz afirma nossa existência. No suspiro contem uma vivacidade indômita, selvagem... Genealogia de procedência cósmica e infinda. No entanto, aqui o mormaço permanece.

(Alan Félix)

ADEUS AMOR


Hoje o silêncio
é companheiro da cama,
e ao cobrir com o lençol
a saudade lhe desperta.

Onde está o nosso amor?
Carregaste contigo ao dizer adeus,
quando levaste as manhãs de amor
e as canções que tanto dediquei.

Despiu-se das frases românticas
e evaporou como a lágrima indelicada
que cursa o destino plantado
na origem da sua causa.

Não desejo suas palavras cristalizadas,
emolduradas nas imagens de espelhos.
Se partir, traga honestidade na voz,
no olhar e no tempo.

Não me abrace e partas depois,
o corpo anseia por aprendizagem
da solidão, do vago, do nunca mais...
Permita-me ao costume de não lhe ter.

(Alan Félix)

sábado, 24 de setembro de 2011

Entre














Entre o intervalo
Existe o silêncio e o vazio.

Entre minha boca
E sua boca existe o vácuo.

Entre o muro
E o seu corpo existe minha mão.

Entre o pensamento
e o falar existe um esconderijo

...onde guardo tudo que sinto expressar.

Entre a vida e a morte
Existe o instante de tudo.

...o passa nesse momento é chances perdidas.

A chance de silenciar, beijar,
apertar você e arriscar.


Alan Félix

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Construção e Constelação

Entre a construção
e a constelação
existe o céu
e o arranha-céu.

O arranhar da língua
no céu da boca
ou o arranhar da boca
no céu da moça.

Alan Félix

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ancorar



Liberta-me das amarras de suas pernas
e ama o balançar do meu corpo
na nau de sua vela.

Ínsita, o navegar das minhas mãos
nos mares da sua boca
ancora seus suspiros
no porto do meu ouvido.

Umedece a proa dos seus seios
nos mastros dos meus dedos
hasteando os desejos navegantes
no cais do meu corpo.


Alan Félix

domingo, 28 de agosto de 2011

Libertas


despimos de tudo que nos aprisionávamos...
primeiro a verdade,
depois o medo,
em seguida o amor,

e ficamos nus de tudo que tínhamos em nós,
que nos cobria e revestia de humanidade.

Alan Félix

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

GEMINIANO & CAPRICORNIANO


Porque tudo é caos e sinergia
na mutua comunhão do zodíaco.
Eis que a paciência e o amor
o relógio da espera geminiana
gemina na esperança capricorniana
de apaixonasse e ao tempo entregasse.

Na calmaria das fases da lua,
nas ave Maria rogada na pressa.
O habitual desabitua na frustração
do relacionamento desastroso.

Na duvida da entrega do corpo,
a alma na volúpia ilimitada da paixão.
Eis que a demora capricorniana
tende a machucar nas recusas.

Alan Félix

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Iemanjá




Quais os segredos
migram do teu mar
Iemanjá.

Fevereiro
é tempo de flores
voando nas ondas do mar.

É tempo de banhar-se
em suas águas
e saudar com cânticos.

Odo Iyá.
Odo Iyá.
Odo Iyá.

No abebê (olhos marítimos)
refletem o azul do celeste,
e as águas viram espelho de deus.

Alan Félix

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Maquinário

O homem criou máquinas
para fazer arte.

O homem criou máquinas
para satisfazer as suas necessidades.


Alan Félix.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tanto Mar


Tanto mar Maria
Tanto mar ia
Tanto mar vinha
Tanta maravilha
Tonto do mar eu ia
Tanta maresia
Tanto mar na ilha.


Alan Félix

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A(mar) (Ser)tão


Se amar virá sertão, então serei tão seu.


Alan Félix

sábado, 30 de julho de 2011

Vida sustentável


A noite cai sorrateira escondendo as pegadas do sol. Adentro a casa vazia: quarto, sala, banheiro e solidão. O metro quadrado da casa não cabe a bagagem do meu dia. É difícil descansar quando não existe janela para ver a cidade sufocada na fumaça.
No microondas esquento a esperança a cada manhã, a marmita que se arrasta pelo dia e qualquer outra desilusão que possa beber juntamente com o café amargo do bom dia. Tranco a porta de tudo que sou, e vou fechado ao trabalho, a vida, a agonia, a rotina e termino na cortina do banheiro tomando uma ducha.

Alan Félix

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Desatino


O nosso desatino é o desafino desse coração.

Alan Félix

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pressentimento


p/ Ana Clara

Deixe a moça recitar
o samba
nos versos dos seus passos.

Deixe-a dizer que é
bamba
e que ama qualquer pessoa (que cantar o seu samba).

Deixe-a cantar baixinho,
quase em silêncio o chorinho
que sopra da flauta dos seus olhinhos.


Alan Félix

domingo, 24 de julho de 2011

Quem sabe isso quer dizer amor.



A bússola do coração
orienta a desorientação do amor.

As rotas são notas suprimidas
no silêncio dos olhares.

Caminho no deserto incerto
dos solitários,

colhendo desesperança perdida
em folhas de cartas esdrúxulas.

Queimo as cartas para aquecer as noites de solidão.

Alan Félix

terça-feira, 19 de julho de 2011

O cálice



Olhos plácidos espreitam

vãos silenciosos da noite.


Onde está as divindades subterfugias

que observam os homens


O cálice aproxima-se, e vejo meu sangue tinto.


Alan Félix

sábado, 16 de julho de 2011

Marujo


Eis o coração essa balsa a
velejar na razão da amada.


A mar marujo no amar.

Alan Félix

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Andança


Quando sempre passo por sua janela, espio o interior da casa.

É involuntário o gesto, sem perceber quando noto vigio sua presença. Lembro da tarde cansativa, das preocupações que rodeavam como sombra, e quando a distração furtava a atenção, voltei o olhar para a janela de grandes vidraças.

Rapidamente, a epifania daquela mulher debruçada olhando a multidão que devagar crescia sobre o asfalto da avenida.

A gravidade pesava lentamente nos caracóis do cabelo ruivo, e a cada balançar das mechas os campos de algodão do céu moviam-se. Caminhei entorpecido beirando as paredes, sacadas e meio-fio da rua. O coração transpirava pesando o vôo dos pulmões.
Assim, toda tarde caminho naquela avenida, percorro aquela rua, espreito aquela janela na esperança de abraçar-la novamente num olhar.

Alan Félix

Carta sem destino.


Querida Elnora,


Hoje acordei com a noite invadindo meu quarto, me assustei com o chamado dela.

Apresentava-me cama vazia ao lado.

Acordava-me para ofertar a solidão que deitava no meu braço. A noite é cruel como uma ave de rapina, devora seu tormento toda noite. Infeliz, sou eu que deixei uma brecha da janela aberta. Isso porque numa noite um pássaro de asas cegas voou até minha janela.

Pensei que foi você enviando uma mensagem alada.

Ironicamente, é um daqueles pássaros que voa sem direção buscando encontrar a árvore para escapar da escuridão traiçoeira. A partir daquele dia, deixei uma brecha da janela esperançosa para que meu sonho alçasse vôo até sua cama.
Na verdade, espero que seu corpo de bem-te-vi alce vôo até minha janela para bem me vê. Meu bem, nos precisamos nos ver antes que o dia consuma a noite, e a cortina que protege meu corpo da luz do sol, impeça sua chega a mim. A cama ainda permanece vaga.

Alan Félix

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Culpa original















Quando a maré dos olhos,
minguar a saudade do corpo,

e a cálida flor do sonho dispersar como as nuvens a exausta canção dos bardos.

Lembre-se,
a lembrança é forjada com o fogo da dor
e o ferro da tristeza.

A vida é uma invenção
de sentimento descoberto na mordida da maça

- e nos expulsa do Elísio a cada manhã.

Alan Félix

terça-feira, 21 de junho de 2011

Coração Troiano


Se em todo anoitecer enfrento dragões é porque os pesadelos fogem da lua.
A vida pesa mais que uma medida, e vivemos na balança do acaso. O que ocorrerá ou deixou de ocorrer é apenas fatos do que nunca existiu. A cada dia empunhamos o coração troiano na lança: guerreamos ou amamos. Eis a dúvida, a vida, a dúvida novamente. Tudo provém dos temores e dos tremores da alma, esse corcel assustado galopando na vértebra do medo.


Alan Félix

domingo, 19 de junho de 2011

Não te consigo inventar.


O que preocupa não é o inverno sorrateiro no jardim da casa, mas a solidão amena que sopra no vento gélido. O frio dói, dói e dói por demais no leito esquecido da cama. Porque quando o mês de junho canta a despedida do sol, e a luminosidade insistente do verão voa ao norte.

O que sobra é o cheiro da partida na rua; o tom marrom das folhas mortas nas avenidas, os bancos carente das praças ansiando por idosos.

O espantoso é a chuva.

A chuva que emudece o dia, outro dia, e adia a serenata dos pássaros na janela das casas. As janelas cerram os olhos na esperança que as lágrimas lentas do céu não molhem o quarto, a cabeceira e o corpo hibernando na solidão. O preocupante na hibernação dos sentimentos é que o verão demora a chegar.

Alan Félix

O título do texto é homenagem ao blog de Malfada

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eu, você, nosso chá e dois biscoitos


Escrevo para desprender em cada palavra você, extinguir sua existência em mim. Julgo e conjugo letras na liturgia da escrita. Ritual religioso na celebração da ausência. Perco o nosso passado na incorporação da palavra “adeus”. Pretexto para o texto que falo a você. Consolo-me na tormenta noturna do pensamento que luta ao ignorar você. Expresso nosso desatar na linguagem dramática das cartas, epistolas sem pista da nossa história.

Alan Félix

O título do texto é homenagem ao blog de Dinha Greyce

domingo, 5 de junho de 2011

Insaciavél




desenha seus lábios no guardanapo
que guardo e recordo nas noites quase inóspita.


rabisca seu perfume na roupa
que envolta muda o ar desse quarto.


sublinha com dedos minha carne
me marque, desejando-me só pra ti.


grave essa voz no meu ouvido
que em silêncio recita - você só pra mim.


fotografe seu olhar nesse quadro
que retrate sua alma feliz.


esculpa seu corpo no barro
que idolatrado no altar que sou “eu”.


dance seu ritmo no meu corpo
e na noite cause tremores dentro de mim.


assim, somente aqui, terei...
você junto a mim...

Alan Félix

terça-feira, 31 de maio de 2011

Atômico


nosso amor nuclear
nutre no ar.

expande, devasta...

é reação gama
do amar.

Alan Félix

Alagados

(Walter Firmo)

O que me sustenta são paus
imersos na vergonha social.

O meu chão é o mar
e as mazelas nacionais.

O meu quintal é azul,
e turvas são as lágrimas dos meus pais.

Meus governantes são Iemanjá,
que protege o meu lar.

O meu animal de estimação
é o ganhamum que me alimenta ao acordar.


Alan Félix

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Eu, você, nosso chá e dois biscoitos


Porque pensei em você, numa libertação que é nossa. Essa terra que tornou-se carcere, também apresentou um ao outro. É a parte reconfortante de viver aqui, saber que existe quinta-feira no meu calendário.

Alan Félix

sábado, 21 de maio de 2011

Banquete


moro onde o som silencia-se,
onde a feição pode chamar de lar.

lá no selvagem campo de Deus,
na natureza infinda da voz;

na imensidão dos crimes profanos da paixão.

conjugo cantos, olhares
e mares em que possa velejar.

ofereço-me num altar
banquete para festejar a abstinência do mundo.

Alan Félix

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tempo


o tempo é sentido na pele,
e vivo à flor da pele, ou na pele da flor?

por onde o tempo escoa?

nos canais estreitos do pólo.
entre o vão ofegante dos corpos.

Alan Félix

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Girassol


Você é uma manhã de sol: girassol
a girar nos meus dias.

Você é a lágrima do sol que acalenta
o inverno do meu corpo radiando calor
nos hemisférios da minha vida.

Você é porto seguro
para âncorar meu mundo a deriva.

(Alan Felix)

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Tango

(Pedro Alvarez)

Corpos concomitantes
na volúpia da dança.

No soar fino do violino
emerge o ardor da carne.

O entrelaçar da luxúria
no espasmo do passo.

Dois corpos dialogando
nas carícias dos sapatos.

O desejo febril dos dançarinos
no gozo tácito dos aplausos.

(Alan Félix)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

PROJETO #EUSOUGAY

Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Itarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.

Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.

Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.

E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.

Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.

Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?

Quero então compartilhar essa ideia com todos.

Sejamos gays.

Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY

Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:

1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY

2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com

3) E só :-)

Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.

A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.

Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.

As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.

Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.

— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

_____________________________ X ______________________

Querendo entender, saber mais ou participar entre no blog do #Eusougay: http://projetoeusougay.wordpress.com/

quarta-feira, 27 de abril de 2011

13 de junho



Soprou em mim todo seu canto,
estremecendo meu céu candeeiro,
as estrelas do céu da minha boca, caíram.

Num brilho efêmero das estrelas cadentes,
iluminou minha noite como uma vela,
estampou na parede do meu corpo, sua sombra quente.

E como uma cortina noturna,
cobriu meu corpo como manto dispessado
refletindo o esplendor do seu beijo, no meu corpo.

(Alan Félix)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cartas sem destino.




Querida Elnora,

O que seria da saudade caso não tivesse a conhecido.
Seria apenas uma palavra sem expressão vivaz no dicionário da minha vida.
Ainda lembro-me do sorriso iluminado que cortinava todas as manhãs de segunda-feira. A segunda-feira era sempre um mórbido enterro do tédio de domingo.
Mas depois que a conheci passou a ser um cântico hipnótico da sua voz macia de morango. O castanho dos seus olhos reluzia como a pedra âmbar. A sua pele de seda cobria meu corpo no abraço reconfortante. Aquele abraço significava força ao meu corpo. Força motriz que reviveu brasas cansadas da vida.
Escrevo a palavra adeus nos fios cacheado do seu cabelo, e carrego comigo o retrato da felicidade. A clandestina felicidade que embarcou na minha vida numa quase tarde da semana.

Alan Félix

sábado, 23 de abril de 2011

Diálogo ao Vento


- amor já vou embora,
pois sou vento viajante.

- deixa o feixe da janela aberto
para que eu siga viagem nela.

- não importe-se com a saudade,
de vez em quando sopro as persianas da janela,
o lençol que lhe conforta.

(Alan Félix)

sábado, 16 de abril de 2011

Cartas sem destino.



Querida Elnora,

A cada dia faço da saudade uma criatividade.
Crio e recrio você no abstrato do coração. As cores na qual pinto os momentos etéreos, dependem da força pictórica na alma, e dos andaimes psíquicos da mente.
São toneladas de convulsões pilhadas no contende do coração - ocupando espaço. Organizá-lo tornou-se imprescindível, catalogá-lo fundamental, assim esquematizando eu e você. Subcategorias para armazenar novas transparências de transgressões amorosas da vida.
Transgredir é permitir desorganizações sentimentais no invólucro perfeccionista do amar, o coração. Este coração selvagem, safári hostil de estrangeiro, que sorrateiramente deixa-se colonizá-lo. Relutam enfraquecido as invasões bárbaras.
Obter esse estado independente novamente é recolher migalha do coração.
Desse modo, colando os vários vestígios de dor como mosaico para exibir artisticamente o painel da recuperação ao outro. Pergunto-me que mosaico tornei-me depois de tantos anos de decepção, o que ainda de real resta na minha alma desfigurada.


(Alan Félix)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Poesia II


A poesia
é o espaço entre os versos.

É o silêncio abissal
entre uma palavra e outra.

É a arquitetura
da escrita nos edificios da alma.

Alan Felix

quarta-feira, 30 de março de 2011

Cachoeira

Adenor Gondim


Se minha vida não é um vapor que navega nesse rio. Então, o que ela é Paraguaçu? Pedras que servem de passada para o vulto do seu passado? Já que seus sobrados servem como vitrine da areia morta na ampulheta da mémoria. Se o vapor não navega mais nesse mar, onde navega minha alma marinheira?

(Alan Félix)

domingo, 27 de março de 2011

Arteira


Esse olhar de arteira,
mandiga de feiticeira,
ginga de capoeira,
preste a domar.

Enrolo nessa teia,
régua da asneira
que vivo a contar.

Anotar o quão distante
vivo nesse lance
de esconder o cantar.

Canto a tristeza
de toda realeza
do verso “não amar”.

Esse olhar de prosa,
verso, rima e bossa,
penetra ao olhar.

Os seus beijos meio Caymi,
Buarque e Vinicius,
sinfonia para orquestrar.

(Alan Félix)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Arrepio


Você chegou ao
meu corpo
feito arrepio.

Tipo vento frio
que causa calafrio
ao calar meu frio.

(Alan Félix)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sobre Estrelas


As estrelas são vaga-lume que brilham no universo, não sabendo de onde veio e para onde vão. Pobre dos homens, corpos celestes sem luz, porém com a mesma dúvida.
Não sabendo de onde veio ou para onde vão.

(Alan Felix)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Caligrafia




Na linha de suas mãos
escrevo meus poemas
mais carinhosos.

Rabisco em cada curva
dos seus dedos
toda minha candura,
ternura e doçura.

Junto nossas mãos
afim que nossa linha da vida
se torne um soneto.

Quero perpetuar
na palma de tua mão
a minha caligrafia afável,
o meu verso amável sobre você.

(Alan Félix)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Libidinagem


No toque libertino de seus dedos,

meu clitóris te convida,

a mexer nele como numa poesia.


Se a mão não te basta

para escrever você em mim,

utiliza sua língua mexe nele como numa rima.


Penetra sua boca em minha boca ferina,

me lambe como a uma vadia,

trás o gozo como a inspiração da noite tardia.


E quando ouvi meu gemido nos seus lábios,

e senti meu corpo pasmo,

é que já descobriste meu pecado.


(Alan Félix)