quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mormaço


O mormaço deitasse sobre a cidade, aquele dia que o sol ensaia aparecer, e a chuva desfila tímida nos espaçamentos do dia. O que incomoda de verdade é o mormaço, nem tanto a incerteza do dia em ficar amarelo ou cinza, a tonalidade das cores sempre me atraiu. Mas, o desencanto é remeter o mormaço a paixão agonizante que vivenciei alguns meses. Nossa como alguém pesava tanto dentro do coração e incomodava de viver, respirar e sentir. Porque nada é mais vibrante do que respirar. Não é por acaso que a liberdade sempre é compreendida como um suspiro. Não desvendei os segredos do suspiro, mas sinto a cada suspiro, um mergulho desconhecido nos mares íntimos do corpo, o prazer rápido e silencioso. Num instante entre respirar e expirar desencadeia um balé frenético do universo, e nesse gesto deprimente encontramos o que de mais voraz afirma nossa existência. No suspiro contem uma vivacidade indômita, selvagem... Genealogia de procedência cósmica e infinda. No entanto, aqui o mormaço permanece.

(Alan Félix)

2 comentários:

  1. Uma analogia mais do que interessante, é sensitiva... entre o inspirar e o expirar o universo todo se move, é verdade. O suspiro liberta mas também pode deixar evidente o desassossego da alma. É mesmo como se fizesse um mormaço pesado dentro da gente...
    Adorei o texto.
    Beijokas e um fds lindo pra vc.

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  2. É o segundo que leio, e estou admirado com seu jeito de manipular os sentidos. É admirável que você consiga tratar de um tema, e expressar sentimentos íntimos através desse tema, comum a todos. Muito bom, Alan!

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