domingo, 31 de janeiro de 2010

Olhos de Cinema.


Para Camila Mota

Teus olhos-lente filmam
passos,
compassos,
descompassos.

Teus olhos-lente capturam
cenas,
contra-cenas,
eu.

Teus olhos-lente gravam
momentos,
acenos,
ações.

Gravam sorrisos para você,

meus olhos te lançando fitas,

grava algum coração bandeira.

(Alan Félix)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Esquecimento


Esqueça meu nome,

identidade,

endereço.


Sou daqui e dali,

ando aqui e acolá.


Sou o vento que mexe seu cabelo

e logo levanta a saia de outra.



Sou efêmero,

dissolvo,

viro ovo,

envolvo.


Esqueça meu sobrenome,

genealogia,

telefone.


Ando na estrada do tempo:

velhice,

juventude,

espermatozóide.


Sou a cortina que balança pela manhã,

e o raio solar que dar bom dia.


Sou apenas partida,

nunca chegada.

Por isso, me esqueça, querida.


(Alan Félix)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Acidez Mental


Absorvo borboletas que voam no espaço.

Adquiro asas para voar no azul celeste e encontrar o lugar onde fica a noite.

Espaideço no vazio dos olhos pretos.

Caminho nas ruas da mente.

Existe um abrigo no subconsciente do mundo.


(Alan Félix)

sábado, 23 de janeiro de 2010

2 de Fevereiro


O mar do teu corpo
cheirava a rosa,

e promessas.

Pedidos flutuando
em pétalas.

Recusa nas rochas dos teus olhos.

São oferendas
para teu (a)mar.

Singelas tentativas de te acomodar
num altar.

(Alan Félix)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Toque


Um simples toque causa a ritmia em mim,
tudo suave como uma brisa, pensamento em você.

Versos bailaram ao vento que trás sua palavra
penetrante e rigorosa ao ouvido,
ativando a mais débil das sensações,
pulsando o mais viril dos sentimentos.

Desconfigurado eu, configurado você.

(Alan Félix)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Abra-te o Céu



Abra-te o céu, menina
deixa esse anjo entrar puro.

Derramar no seu mar
o licor de cor translúcido.

Embebedar suas nuvens
com líquido transparente-fogo.

Chover o fogo puro
que libertas das várzeas do seu céu.

Queima o altíssimo,
faz do gozo o entardecer.

Onde o sol esconde,
a lascívia que derrama no fim da tarde.


(Alan Félix)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Corpus




O verso suado brota do seu corpo
incendiário,
encharca as mais secas veredas
do meu corpo nu,
inundando minha alma seca.

O verso ofegante emerge do seu corpo
espumante,
descansa no bosque caótico do meu lábio
calmante,
sossegando o sonho ambulante.

O verso profanado do seu corpo
zincado,
dilacera o crepúsculo do meu olhar
imaculado,
formidando nosso espírito estrófico.

(Alan Félix)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Confissões de Millena



Inocência é uma palavra que há muito tempo não faz parte de mim.

A verdade é que muita coisa não faz mais parte de mim, muitas palavras que me definiam escoaram do corpo, me abandonaram, evadiram-se, já não sou a mesma há muitos anos, até a sombra que me acompanha mudou, me deixou, desaparece nos momentos de sol fresco.

A recordação da palavra inocência é vaga em mim.

O seu significado nunca me pertenceu plenamente.

Se um dia tive falta de culpa, se um dia houve candura, pureza, simplicidade e ingenuidade aconteceram no útero da mulher que me concedeu a vida. Mas, para a moralidade em que vivemos, perdi a inocência no entoar de um pênis invadindo o meu ventre sempre aberto e úmido, local acolhedor de prazeres desconhecido.

A pureza evaporou-se nas camas de motéis em que estranhos adormecia no meu corpo ejaculado, suado e cansado.

Imagine que durmo comigo todas as noites, e aterrorizo-me com meus atos levianos. Besteira, digo-me, a cada virada na cama. Acostumei com a mulher promiscua que vive comigo.

Promiscua.

Traiçoeira.

Vulgar.

Três adjetivos, que para algumas mulheres é pejorativo, mas é um elogio aos meus ouvidos profanos. Sou essas mulheres vadia, ou muitas vadias numa mulher.

Abraços primaveris,

Millena

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cartas sem destino

(Garance Doré)

Querida Elnora,

Hoje acordei apaixonado pela vida, flores voaram do meu corpo embelezando o jardim flutuante da manhã.
Nesses dias de ausência, o silêncio acariciou meus pés frios.
Fez-se saudade a falta de você, lembre-se que você era a primeira paisagem que meus olhos recém despertados engoliam de manhã.
E ultimamente tais olhos andam famintos.
Desejosos de lançarem-se sobre as montanhas das suas costas, deslizando como pedra no contorno do teu corpo até virar poeira escondida nos poros de sua pele.
E quando o vento soprar as planícies bronzeada da tua pele, possa lançar-me aos ares para te ver do alto.
Acredite que a visão sobre teu corpo do altíssimo, é como ver flores de girassóis nascendo asas e voando para iluminar o dia.
Minha querida, as flores de girassóis aliviaram a sua ausência, e também afugentou a saudade daninha que germinava dos meus pés frios.
O silêncio ainda acaricia meu corpo, toda manhã esquenta meus dedos e pães. Mas, ando me erguendo a cada dia, não se preocupe, enquanto flores brotarem do jardim no meu peito, eu estarei apaixonado e vivo.

(Alan Félix)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sons




Os sons pintavam as
CORes...

Os sons brotavam as
FLORes...

Os sons calavam as
DORes...

Os sons faziam
AMORes...

(Alan Félix)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Suavidade


Meu perfume desprende
o pensamento exalado
do teu lábio.

Meus olhos choram
o desejo suado
que escorre do teu ventre incendiário.

Minha mão calejada
imprime a sensação
do teu corpo acanhado.

Meu lábio captura
a luxúria dos lábios
da tua vagina embriagada.

(Alan Felix)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Brazileiro

Vem comer minha língua para virar brasileiro.

Eu, filho do estupro lusitano;
Alimentado em seio africano;
Deitado em berço “gentil”.

Feto das grandes navegações,
aborto dos navios negreiros,
bastardo de famílias indígena.

Devoro minha alma folclórica,
para expelir minha origem devassada.
Pois, cada parte de mim,
anda assombrando a memória corroída
pelo tempo mudo das horas.

(Alan Félix)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Acordes da Saudade


O violão emite suas notas de saudade
a tarde na beira do rio nunca foi melancólica.

O céu que pinta minha altura,
nunca havia sido tão acinzentado.

Aquelas nuvens carregadas nunca trovejaram
meus pensamentos mais límpidos.

Aquela chuva fresca da primavera
nunca foi meu lacrimejar.

Meus olhos carregados de pranto,
faz dilúvio dentro de mim.

Deixando turva a margem daquele rio
em que outrora eu olhava minha saudade.

(Alan Félix)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Esconderijo.


para Fernanda Rocha

Quando a noite transborda
a casa.

A luz do poste do coração ilumina
a solidão.

Escondo-me na favela dos seus olhos.

(Alan Félix)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Varal


–No–

–quin–tal–

–da–

–nos–tal–gia–

–ha–via–

–um–

–va–ral–

–de–

–lem–bran–ças–

–em–

–que–

–pren–dia–

–mo–lha–do–

–mi–nhas–

–re–cor–da–ções–

–tris–tes–.

(Alan Félix)

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Amargo


O sabor que emana de mim
tem o gosto amargo
daquela cachaça destilada
vendida no bar da esquina.

Meu primeiro gole é repugnante.
Porém, o segundo gole é macio
como a raiva que desce queimando.

O meu amargor te satisfaz,
Deixando-a embriagada e entorpecida
de todos os mares algozes.

Nessa tarde feroz,
o meu sabor é o que corroí,
toda dor voraz, que te mantém atroz.

O amargo que te seduz,
reluz em mim como karma,
pertinaz até meu fim.

(Alan Félix)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Canto I


p/ Maria Luisa Ribeiro

Poeta é pássaro
solitário.

É voo flamejante
no olho do sol.

É canto da morte
na asa do corvo.

Poeta é a fome da fartura.

É o grão que alimenta o papel
e carboniza o choro.

Poeta é o verbo de deus
no vocal pagão.

Poeta é poesia que sacia o cio
do coração.

Alan Felix