sexta-feira, 29 de abril de 2011

PROJETO #EUSOUGAY

Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Itarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.

Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.

Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.

E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.

Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.

Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?

Quero então compartilhar essa ideia com todos.

Sejamos gays.

Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY

Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:

1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY

2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com

3) E só :-)

Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.

A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.

Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.

As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.

Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.

— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

_____________________________ X ______________________

Querendo entender, saber mais ou participar entre no blog do #Eusougay: http://projetoeusougay.wordpress.com/

quarta-feira, 27 de abril de 2011

13 de junho



Soprou em mim todo seu canto,
estremecendo meu céu candeeiro,
as estrelas do céu da minha boca, caíram.

Num brilho efêmero das estrelas cadentes,
iluminou minha noite como uma vela,
estampou na parede do meu corpo, sua sombra quente.

E como uma cortina noturna,
cobriu meu corpo como manto dispessado
refletindo o esplendor do seu beijo, no meu corpo.

(Alan Félix)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cartas sem destino.




Querida Elnora,

O que seria da saudade caso não tivesse a conhecido.
Seria apenas uma palavra sem expressão vivaz no dicionário da minha vida.
Ainda lembro-me do sorriso iluminado que cortinava todas as manhãs de segunda-feira. A segunda-feira era sempre um mórbido enterro do tédio de domingo.
Mas depois que a conheci passou a ser um cântico hipnótico da sua voz macia de morango. O castanho dos seus olhos reluzia como a pedra âmbar. A sua pele de seda cobria meu corpo no abraço reconfortante. Aquele abraço significava força ao meu corpo. Força motriz que reviveu brasas cansadas da vida.
Escrevo a palavra adeus nos fios cacheado do seu cabelo, e carrego comigo o retrato da felicidade. A clandestina felicidade que embarcou na minha vida numa quase tarde da semana.

Alan Félix

sábado, 23 de abril de 2011

Diálogo ao Vento


- amor já vou embora,
pois sou vento viajante.

- deixa o feixe da janela aberto
para que eu siga viagem nela.

- não importe-se com a saudade,
de vez em quando sopro as persianas da janela,
o lençol que lhe conforta.

(Alan Félix)

sábado, 16 de abril de 2011

Cartas sem destino.



Querida Elnora,

A cada dia faço da saudade uma criatividade.
Crio e recrio você no abstrato do coração. As cores na qual pinto os momentos etéreos, dependem da força pictórica na alma, e dos andaimes psíquicos da mente.
São toneladas de convulsões pilhadas no contende do coração - ocupando espaço. Organizá-lo tornou-se imprescindível, catalogá-lo fundamental, assim esquematizando eu e você. Subcategorias para armazenar novas transparências de transgressões amorosas da vida.
Transgredir é permitir desorganizações sentimentais no invólucro perfeccionista do amar, o coração. Este coração selvagem, safári hostil de estrangeiro, que sorrateiramente deixa-se colonizá-lo. Relutam enfraquecido as invasões bárbaras.
Obter esse estado independente novamente é recolher migalha do coração.
Desse modo, colando os vários vestígios de dor como mosaico para exibir artisticamente o painel da recuperação ao outro. Pergunto-me que mosaico tornei-me depois de tantos anos de decepção, o que ainda de real resta na minha alma desfigurada.


(Alan Félix)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Poesia II


A poesia
é o espaço entre os versos.

É o silêncio abissal
entre uma palavra e outra.

É a arquitetura
da escrita nos edificios da alma.

Alan Felix