quarta-feira, 31 de março de 2010

É de lágrima, sonhos e papel


É de lágrima o mar
que fiz para navegar
para longe de você.

Foram de sonhos
a terra que acreditei
existir além da praia escura
de seus olhos.

É de papel
o barco que construo
para dizer adeus
a enseada do teu corpo.

(Alan Félix)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

O porto da cidade anda vazio, há tempo que não sento no chão de pedra polido por nossa história.
O tempo anda chuvoso, porém são de verão meus olhos.
Os sóis das retinas queimam fortemente nas pupilas desgrenhadas da saudade, meus cílios são campos de sal iodeto que inibe o rio das lágrimas cursarem na minha face.
Caminho com pés descalços para sentir a frieza das pedras e imaginar os sentimentos delas por não terem alguém que a esquente.
O meu corpo é uma pedra desgastada pelo atrito das emoções, cujas ondas dos sentimentos erodiram com o tempo.
Primeiramente o coração rochoso ruiu até virar areia, o vento soprou empurrando a poeira para as correntezas da desesperança. Desse momento em diante perdi o brilho latente que existia na pedra-coração.
Assim tento lapidar-me quietamente nas mãos adestrada da vida.
Qual a forma que terei?
Certamente, tornar-me-ei algo irreconhecível e bruto, pedra solitária da construção da alvenaria de algum edifício que arranha o céu.
Talvez nesse deposito de pedra invalida, eu encontre alguma outra pedra solitária, assim possamos ser estrada para futuros amantes.
Espero que nesse cemitério de pedras seja você a minha pedra gêmea que por várias vezes serviu de companheira nas margens daquele porto.


(Alan Félix)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Conversa do Divino II


Quando a fome
sofrer a cegueira da fartura

e dos seus olhos as palavras do Conselheiro brotar na caatinga

como flores e frutos bacáceos,
alimentando a mente dos sertanejos.

Nascerá cuscuz de milho nas favelas de canudos.

(Alan Félix)

terça-feira, 23 de março de 2010

Cigarro


Carrego na mente
a certeza
e nos dedos a ilusão.

O meu amor,
eu enrolo e fumo
dispersando
numa fumaça densa
as incertezas
abrigadas no pulmão.

E o teu mundo pesa
entre meus dedos,
e o gosto amargo
entranha nos meus lábios.

O que importa se você
é meu cigarro,
meu câncer desejado.

(Alan Felix)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Adeus para Saudade


O que é aquele vulto correndo na sala?

Lembrei,
sua presença dizendo Adeus.

(Alan Félix)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Erigir


Semeia
o arado do pênis no roçado da vagina.

Propala
o calor no solo seco do ventre.

Precipita
a chuva no leito do gozo,

rega as várzeas frutíferas do clitóris,

germinando
os espasmos semente do corpo.


(Alan Félix)

terça-feira, 2 de março de 2010

Conchinha


Levemente
inclina o corpo, meu bem.

Entreabre
as janelas do teu ventre.

Sorrateiro
desliza as pedras do meu sexo.

Construo muralha,
barragem de teu gozo.

Transbordo
os lençóis subterrâneo do teu orgasmo.

E no invólucro
dos meus braços apalpando os seios

A língua crustáceo
tatear as dunas da tua nuca.

Teus gemidos
liberta-se do beco da garganta.

A carapaça da minha mão
envolver tua barriga de molusco.

Adormeceremos
feito conchinhas do mar.


(Alan Félix)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A Lira do Coração


A melodia que toca
a lira do seu coração,

é o amor que sente
por um estrangeiro?

será ecos que gritam
no abismo do seu coração?

Porque há precipícios íntimos
que absorve
a escuridão d’alma.

Deixa os sons do coração dizer:

Se é ,
o Mi,
que ,
quer ficar .

(Alan Félix)