Querida Elnora,
O porto da cidade anda vazio, há tempo que não sento no chão de pedra polido por nossa história.
O tempo anda chuvoso, porém são de verão meus olhos.
Os sóis das retinas queimam fortemente nas pupilas desgrenhadas da saudade, meus cílios são campos de sal iodeto que inibe o rio das lágrimas cursarem na minha face.
Caminho com pés descalços para sentir a frieza das pedras e imaginar os sentimentos delas por não terem alguém que a esquente.
O meu corpo é uma pedra desgastada pelo atrito das emoções, cujas ondas dos sentimentos erodiram com o tempo.
Primeiramente o coração rochoso ruiu até virar areia, o vento soprou empurrando a poeira para as correntezas da desesperança. Desse momento em diante perdi o brilho latente que existia na pedra-coração.
Assim tento lapidar-me quietamente nas mãos adestrada da vida.
Qual a forma que terei?
Certamente, tornar-me-ei algo irreconhecível e bruto, pedra solitária da construção da alvenaria de algum edifício que arranha o céu.
Talvez nesse deposito de pedra invalida, eu encontre alguma outra pedra solitária, assim possamos ser estrada para futuros amantes.
Espero que nesse cemitério de pedras seja você a minha pedra gêmea que por várias vezes serviu de companheira nas margens daquele porto.
(Alan Félix)