As lágrimas caem da escuridão do quarto. O lenço novo não seca as lágrimas, que rola e enrola no lençol, imundo, escuro da cama. Entranha! As lágrimas negras que corroem o silêncio, e banha a escuridão da face.
1,00 C$ cruzado, tudo que ofereceu aquele que acostumou a chamar de pai. Mas, o valor pago era para lançar ao inferno intimo a palavra "pai". Não compreendia o valor que ofereceram pela perda da palavra, mas fez o feito pela obidiência ensinada. Seguiu prematuro, sem "pai" e nem futuro. Rabiscou na parede do quarto com giz de cera de cor verde, a esperança que desejava. Já crescido comprou a dívida de 30, 00C$ cruzados do pai, e obteve a palavra preciosa novamente ao enxugar as lágrimas do homem que o conduziu ao mundo, chamado pai.
As fumaças dos nossos passos dissolvem no ar frio das tardes de domingo. O sol brotava das sementes secas de girassol que você jogava para aquecer nossos pés descalços que flutuava nas margens límpidas daquele cais. Repousamos naquela tarde nas madeiras desbotadas pelo tempo, observando as ondas falecidas nos rochedos, assim, exalando a salubridade entranhada nas fendas revestidas de corais arco-íris. Quando nos beijamos ficávamos embriagados pelo sal, a brisa marítima e o suor desgarrado dos poros úmidecidos da saliva ardente. Agora, deitado nesta cama, segurando na porta-retrato, eu lacrimejo as saudades nessa fotografia sépia, que adormece todas as noites na instante e na cômoda do quarto. Continuo estendido sobre o colchão de casal, coberto por uma manta cor crepúsculo, acariciando minha solidão.