quinta-feira, 31 de maio de 2012

Desvendar


Não queiras desvendar Clarice. Porque tentar entender Clarice é descobrir os mistérios que circula as mulheres. Ainda mais que Clarice é duplamente complexa, pois é poeta e mulher. Anseio pela sutileza e brandura das palavras. Não venham com essas mulheres: Adélia, Cora, Cecília e Hilda. Repudio o fascínio do baú espantoso das palavras. Traga-me a normalidade da poesia. Cobiço a rudez dos repentistas trajados de seus cordéis fabulosos narrando épicos mitos folclóricos encantados. A insensatez dos boêmios com suas trovas sócio-romântico-realista-fatalista. Miro os berros alucinados dos loucos, e suas transparentes verdades escarradas ao mundo na esquizofrenia do verbo. Quanta labirintite causa a palavra de Drummond, Moraes, Pessoas e Leminsk.

Alan Félix

domingo, 27 de maio de 2012

Canção


“Os poemas respiram nas prisões”
(Pedro Luis e a Parede – Máquina de Escrever)

Marcelo Jeneci e Laura Lavieri


A canção ecoada da rádio, e a lembrança da paixão.
É difícil ouvir, escutar... É, escutar o coração falar de amor, de amores perdidos, passados e esquecidos.
O silêncio emanado da pulsação faz calar a solidão.
O silêncio!
Os batimentos das teclas escrevendo a palavra coração, e o coração a bater nos poemas e canções que imprimo no papel machê da solidão.
De tal modo, escrevo na máquina de escrever o meu coração, a palavra emoção – algumas letras e sons das pulsações do [meu] coração.
É difícil ler um verso no olhar, ouvir seu coração falar dos poemas que respiram nas prisões das ilusões da nossa história.

Alan Felix

sábado, 26 de maio de 2012

Um Amor pra Recordar



Tirou-me o suspiro feito anjo
beijando minha alma.

Teve fé no meu acalanto
depois partiu como sonho

A única lembrança
que me deixara
foi uma pena azulada.

Na qual escrevo
nosso amor
minha bem amada.

Alan Félix

A Quinta Rosa do Vento

Navego no rio de ódio
Afundo no lago profundo da solidão
Fico a deriva nas minhas emoções

Já atravessei o deserto da vida
Abandonado entre montanhas sombrias
Caminharei no bosque da vida
Em busca de uma saída

Sou o único perdido da trilha
A estrada não me guia

A escuridão se intensifica
Cobrindo minha vista
Impossibilitando de ver
A luz que me salvaria

Alan Félix

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Das Águas




I


no breu,
teu corpo
um poço,
um penhasco
que salto
e fundo
mar frio.

II

apreendo
suas águas
no meu corpo,
faço-me
maré.

III

diluído
despenco
dos olhos.
lavo-te
o corpo,
perco-me
na lágrima.

Alan Félix

domingo, 20 de maio de 2012

AGUÇO


Lembro-me quando a noite pairava num véu sobre o teto da casa. A solidão vagava nos ruídos noturnos, e a sala com a televisão sintonizada em algum canal de silêncio angustiante. O medo era roído nas pontas dos dedos. Você chegou calada, quase translúcida, mas voraz e tenaz com suas passadas. 
Despojou sobre o meu colo, rasgando o suspiro com o gume do dedo que se arrastou sobre meu peito. O coração percutia melodias minimalistas; o arrepio se erguia nas vértebras aos cheiros lentos na encosta do pescoço. Hipnotizado, respirava seu corpo, suas vestimentas fluidas que escondiam a nudez do corpo. As minhas mãos tateavam, lia os sonetos cunhados nas planícies da tua pele negra. 
Desfalecido, como deus caído, sustento o seu mundo nos meus braços, ergo a noite no firmamento e aguento as punições titânicas do seu corpo, que navega no cálice das minhas mãos. Assim, enveredo nas cordilheiras dos seus beijos, trilhando nos labirintos dos seios e perco-me num devaneio. 

Alan Felix

terça-feira, 15 de maio de 2012

Manuel

“Pois eu, eu só penso em você [...] Em ti eu consigo encontrar / Um caminho, um motivo, um lugar / Pra eu poder repousar meu amor”.
 (Los Hermanos - Fingi na Hora Rir)

(Luyse Costa)

Manuel quando se distraía com rompantes de ciúme, logo pensava na amada, nas frequências desbotada de dois corações em que repousaram o amor. O lar tornava-se construção floral de meu bem-querer, um lugar, um caminho para ambos confortarem seu amor. [...]

Alan Felix

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Maria Fernanda

“Eu que nunca amei a ninguém / Pude, então, enfim, amar..."
(Los Hermanos - A Flor)

 (Luyse Costa) 

Em toda a manhã que acorda com o silêncio fantasmagórico, Maria Fernanda, pensa – eu nunca amei a ninguém – convicta que a solidão é um mar na qual vive incessantemente a deriva. [...]

Alan Felix

terça-feira, 1 de maio de 2012

Brisa




Eu leio no balançar dos seus cabelos as canções impressas do vento.

Alan Félix