quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quirimurê*



Por entre minha carne
afunda um desejo febril
de querê-lo  ancorado
nas enseadas do meu corpo.

Em fogo carnívoro
lhe espero nos meus portos
com suas naus ardente
dissipada em sopro de beijo.

Atraca na alameda
subterrânea do prazer,
desbrava furtivamente os ecos
na caverna do meu sexo.

Empilha os sussurros
de encanto e acastela-se
nas fortificações da minha alma.

Espuma na baia dos meus lábios,
e desfalece nos arrecifes
do meu corpo marujo.


*Grande mar interior, em tupinambá.

Alan Felix.




quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Ladeira


Delirante viajava pela ladeira sonâmbula, de repente nossos olhares se embaralharam. As retinas dos olhos trincaram em você. Cega, tateei desesperadamente o ombro do vento para guiar-me até você, mesmo quando você rodopiava num furação de carrossel. Perdida, meus olhos liam seus sinais, suas trilhas, seus labirintos de sossego. Com os pés decalquei seus passos, com as mãos colorir seus gestos, e com o desejo aprisionei você na jaula do olhar, e refém lhe resgate de mim.


Alan Felix.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Insurreição

Adams Carvalho

p/ Mayra Honorato


Insurge nas esquinas 

do teu corpo 
uma revolução de mim.
Percorro a língua 
nas tuas ruas. 
Perco-me na avenida 
das tuas costas.
Enveredo nas vielas, 
becos e guetos das tuas pernas.
Devaneio o urbanismo 
do teu corpo.
Deslizo sobre o arranha-céu 
dos teus seios, 
esqueço-me nas estrelas 
em céus de boca.
Nu edifico-me 
coberto em véu abrasado, 
tuas praças adornam 
os subúrbios dos meus olhos.


Alan Felix.

domingo, 12 de agosto de 2012

Redondilha

“A mulher e o ventre que fecundas.”
(Cora Coralina)




I


Entre folhas orvalhadas da vagina, 
caminho vagarosamente 
arrastando a noite para seu útero. 

Encho com a aurora 
a cavidade do seu corpo, 
lacerando com amanhecer o vinho gozo. 

Com passos de pedra adentro com a flor 
o jardim da vulva, 
floresço girassóis, sóis e mundos.

Listro de mar e cólera as raízes da buceta,
finco solene a manhã,
canto folhas de vento-fogo no sopro do gozo.

II

Corre-me 
o vento atado da língua 
na espuma estrelada da vagina.

Ecoa vozes de pássaros 
que povoa nostalgicamente 
os pinheiros dos óvulos.

Percorro em sombras e raios 
as margens entreaberta da perna
e precipito tempestades infinitas.

Corto a névoa incitante 
que crescia no meio dia da mão,
abarco cachoeiras 
e mares que voam do orgasmo. 



Alan Felix

sábado, 4 de agosto de 2012

Ovulação




Sangro, ovulando pensamentos 

no útero.

Nas fecundações das palavras 
inicia a gestação do verbo - da poesia.

Às vezes menstruo 
perdendo a inspiração, 
a letra, 
a poesia.

Assim, através da vagina 
esvai meus pensamentos,
palavras, 
poesias,
vida. 

Alan Felix