sábado, 14 de novembro de 2009

Cartas sem destino...

(Sophie Calle)
cuide de você


Querida Elnora,


Envio-lhe uma carta, e desta carta existirá outras cartas.

A carta é a simbolização do laço frouxo em nós.

Ontem a noite emanava sexo e amor. O cheiro de ambos mesclava o suor e a respiração ofegante, fluindo nas paredes do quarto, impregnando as velhas rachaduras de amor, sexo e delírio.

Demarcávamos nosso limite com gritos, gemidos e gozo, transcendíamos as delimitações impostas pela timidez momentânea do ato.

É quase impossível distinguir nossos corpos, teu dedo entrançava-se nos meus, tuas pernas enlaçava-se nas minhas, tua boca tecia-se na minha boca. Os nossos corpos encaixavam-se divinamente um ao outro, éramos hóstia e vinho ofertado em momento sagrado.

A tonelada do meu corpo aliviava-se sobre o seu corpo com violência e ternura, o meu prazer deslizava vagarosamente para dentro de você, delicadamente, como deveria ser o amor da alma e do corpo.

O gemido emitido por você ecoava nas cavernas de minha pele.

Tornamos um corpo, enquanto sua voz despedaçada murmurava os arrepios que meus lábios criavam quando afagava sutilmente os teus seios. Novamente estava habitando dentro de você, e você remexia o quadril e pressionava a vagina para melhor me senti habitando os salões vagos do seu prazer.

Assim, juntos, adormecemos sobre os lençóis de nossa pele.

Quando amanheceu estava sozinho na cama, havia um bilhete dizendo o seguinte:


Querido,

Você é um beija-flor que invadiu meu jardim numa tarde primaveril, bailando, pousou na minha flor (coração) bebendo o nécta do meu amor. Contudo, na vida tudo é perecível. O outono chega trazendo aquele frio rigoroso, quando menos esperamos é inverno, e as pétalas da flor caem, a flor murcha perdendo toda a substância que alimenta a vida.

Eu sequei a cinco semanas, e os únicos fluidos que escorre do meu coração é a traição em não lhe dizer a verdade. Assim, deixou um ADEUS.


Lendo este bilhete, resolvi deixar-te livre para florescer em outros campos, porém rasgo minhas palavras em gotas d’água para regar você novamente, ou seja, periodicamente mandarei cartas nostálgica, saudosista e informativa sobre mim, minhas lembranças e o meu amor.

Até logo, querida!


(Alan Félix)

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