terça-feira, 21 de junho de 2011

Coração Troiano


Se em todo anoitecer enfrento dragões é porque os pesadelos fogem da lua.
A vida pesa mais que uma medida, e vivemos na balança do acaso. O que ocorrerá ou deixou de ocorrer é apenas fatos do que nunca existiu. A cada dia empunhamos o coração troiano na lança: guerreamos ou amamos. Eis a dúvida, a vida, a dúvida novamente. Tudo provém dos temores e dos tremores da alma, esse corcel assustado galopando na vértebra do medo.


Alan Félix

domingo, 19 de junho de 2011

Não te consigo inventar.


O que preocupa não é o inverno sorrateiro no jardim da casa, mas a solidão amena que sopra no vento gélido. O frio dói, dói e dói por demais no leito esquecido da cama. Porque quando o mês de junho canta a despedida do sol, e a luminosidade insistente do verão voa ao norte.

O que sobra é o cheiro da partida na rua; o tom marrom das folhas mortas nas avenidas, os bancos carente das praças ansiando por idosos.

O espantoso é a chuva.

A chuva que emudece o dia, outro dia, e adia a serenata dos pássaros na janela das casas. As janelas cerram os olhos na esperança que as lágrimas lentas do céu não molhem o quarto, a cabeceira e o corpo hibernando na solidão. O preocupante na hibernação dos sentimentos é que o verão demora a chegar.

Alan Félix

O título do texto é homenagem ao blog de Malfada

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eu, você, nosso chá e dois biscoitos


Escrevo para desprender em cada palavra você, extinguir sua existência em mim. Julgo e conjugo letras na liturgia da escrita. Ritual religioso na celebração da ausência. Perco o nosso passado na incorporação da palavra “adeus”. Pretexto para o texto que falo a você. Consolo-me na tormenta noturna do pensamento que luta ao ignorar você. Expresso nosso desatar na linguagem dramática das cartas, epistolas sem pista da nossa história.

Alan Félix

O título do texto é homenagem ao blog de Dinha Greyce

domingo, 5 de junho de 2011

Insaciavél




desenha seus lábios no guardanapo
que guardo e recordo nas noites quase inóspita.


rabisca seu perfume na roupa
que envolta muda o ar desse quarto.


sublinha com dedos minha carne
me marque, desejando-me só pra ti.


grave essa voz no meu ouvido
que em silêncio recita - você só pra mim.


fotografe seu olhar nesse quadro
que retrate sua alma feliz.


esculpa seu corpo no barro
que idolatrado no altar que sou “eu”.


dance seu ritmo no meu corpo
e na noite cause tremores dentro de mim.


assim, somente aqui, terei...
você junto a mim...

Alan Félix