quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Leite Derramado


As lágrimas caem da escuridão do quarto.
O lenço novo não seca as lágrimas,
que rola e enrola no lençol, imundo, escuro da cama.
Entranha! As lágrimas negras que corroem o silêncio,
e banha a escuridão da face.

Alan Félix

terça-feira, 8 de setembro de 2009

1 C$


1,00 C$ cruzado, tudo que ofereceu aquele que acostumou a chamar de pai. Mas, o valor pago era para lançar ao inferno intimo a palavra "pai". Não compreendia o valor que ofereceram pela perda da palavra, mas fez o feito pela obidiência ensinada. Seguiu prematuro, sem "pai" e nem futuro. Rabiscou na parede do quarto com giz de cera de cor verde, a esperança que desejava. Já crescido comprou a dívida de 30, 00C$ cruzados do pai, e obteve a palavra preciosa novamente ao enxugar as lágrimas do homem que o conduziu ao mundo, chamado pai.


Alan Félix

domingo, 6 de setembro de 2009

Orixá


O atabaque rompia o véu
do silêncio com os orixás.

O chamado da terra batida
nascia a roda nas palmas benditas.

O ioruba mencionado na voz rouca
da mãe, conduzia o cântico.

A primeira filha gemia,
a saia brotava no giro.

O corpo envergava com as batidas,
os olhos transcendiam frenéticos.

O orixá está entre nós!


(Alan Félix)

sábado, 5 de setembro de 2009

Você & Eu


Era você e eu, as frases apaixonadas
de ‘Dirceu’ em nosso olhar.

Escrevíamos cartas eufóricas
no tom verde dos nossos olhos.

A cada piscar era uma declamação
estonteante de versos lubrificados.

Ao nos olharmos trêmulos,
as palavras dançavam vivas nas retinas.

O balé atônico das palavras,
que os lábios não escreve, mas os olhos dão vida.

E a vida brilhava no reluz dos seus olhos,
e as palavras lá contida nos escrevia.


(Alan Félix)

Olhar Candeeiro




A lumeeira dos seus olhos
são faróis guia
dos meus passos cegos.
(Alan Félix)

Homens Comuns




A terra de homens comuns,
forjado pelo barro ácido e sol escaldante,
moldado nas mãos de deuses incrédulos.

Esses deuses feito de suor e terra,
pés calejados nos cascalhos do sertão e
as mãos talhadas pelo cabo da enxada.

Os homens de olhar sofrido,
de pele árida como sol do meio-dia.
Rebanho perdido nas asas da caatinga.

Cujos santos caídos apodrecem no chão
encharcado de sangue e lágrimas
das rezadeiras ceifadoras.
(Alan Félix)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Cartas sem destino...


Querida Elnora,


As fumaças dos nossos passos dissolvem no ar frio das tardes de domingo. O sol brotava das sementes secas de girassol que você jogava para aquecer nossos pés descalços que flutuava nas margens límpidas daquele cais. Repousamos naquela tarde nas madeiras desbotadas pelo tempo, observando as ondas falecidas nos rochedos, assim, exalando a salubridade entranhada nas fendas revestidas de corais arco-íris. Quando nos beijamos ficávamos embriagados pelo sal, a brisa marítima e o suor desgarrado dos poros úmidecidos da saliva ardente. Agora, deitado nesta cama, segurando na porta-retrato, eu lacrimejo as saudades nessa fotografia sépia, que adormece todas as noites na instante e na cômoda do quarto. Continuo estendido sobre o colchão de casal, coberto por uma manta cor crepúsculo, acariciando minha solidão.


(Alan Félix)