terça-feira, 30 de junho de 2009

Murmúrio III

O silêncio devorou todo som
do coração.
Não se ouvia mais nenhum
pulsar, murmurar.

O coração estremecia na solidão
silenciosa.
No tremular do ecoar dos vales
desabitado.

É um deserto triste e amargo,
meu corpo inabitado.

(Alan Felix)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

Quando entrou naquele ônibus no terminal, e o monóxido de carbono cuspido pela descarga do ônibus, ofuscou minha visão, pesou meu pulmão, e deixou como aceno o vazio do espaço. Caminhei com o olhar vago. Olhar de náufrago que caça na linha do horizonte alguma presença de terra. Assim, caminhei a deriva, buscando a presença da terra do seu corpo. A terra que acolhe meus abraços, meus beijos, meus pés e meu corpo. Fiquei saudoso da terra que desliza no seu corpo, e movimenta-se com o vento que sopra do meu lábio. O meu lábio árido, seco, desértico. Despovoado dos beijos de boa noite, boa tarde e bom dia. Naquele momento o beijo foi de até logo. Até o momento de aquele terminal ser o abraço receptivo de estamos juntos novamente.

(Alan Felix)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cartas sem destino...

Querida Elnora,

O encontro de nossos corpos na cama, representou a contemplação do querer. O querer acanhado de nosso encontro naquela rodoviária conturbada às 18h. O horário em que a população retorna ao seu lar. Neste exato horário, você e eu, retornamos ao nosso lar. Um beijo selou o pacto de eternidade. Demos-nos as mãos, seguraste firme a minha, e senti uma confiança de que não iria embora novamente. Entramos naquele ônibus, fiquei em pé ao seu lado, e suas mãos enrolava sobre minha coxa esquerda. Pousei minha mão alegre na sua cabeça, te fiz cafuné. Chegamos ao nosso destino. Caminhamos até minha casa. Confortei-te no muro verde da varanda, comprimir meu corpo ao teu, e um beijo desengonçado escreveu nossa noite. Enveredamos a noite, divertimos, e numa praça florida, afanei uma pequena flor vermelha. A flor na mão, o coração saltitante e palavras despejaram de minha boca. E um simples, SIM. Ecoou de sua boca macia no instante que eu roubava seu suspiro com um beijo. A minha querida, quando repousamos naquela cama, e demos risada da luz do poste invadindo nossa cama. E o ruído da rua assustava você, e seus olhos castanhos inquietos dançavam. O seu corpo aproximava-se do meu, e seu seio acariciava meu corpo. Unimos num momento água e óleo. E adormecemos em conchinha.

(Alan Félix)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Noite



Nossos corpos entrelaçados
no lençol noturno do amor.

Aguardando o amanhecer
entre beijo e sexo noctívago.

Cobrimos e descobrimos
nossa timidez passageira.

Teu corpo pesa sobre o meu
tal como uma pluma do travesseiro.

Meu corpo pesa sobre o teu
tal como um urso de pelúcia.

Transpiramos o desejo contido,
umedecemos nossos corpos.

Tornamos férteis como campos
de flores, e brotamos ao luar.

Efervescemos ao cai da noite,
ebulimos nossa lascívia.

Absorvemos ao outro,
adormecemos no amanhecer.

(Alan Félix)

sábado, 13 de junho de 2009

Lei(L)a


Tua mão é o pilar
que me ergue
do mais profundo
poço da solidão.

(Alan Félix)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

É uma tarde comovente de junho, o sol queima como seus olhos castanhos claro. Lembro-me daquele banco na praça que servia de abrigo para o nosso amor. Pousamos nele como passarinhos. Num clima de outono lapidado, bebi nos seus lábios uma poção delirante de lirismo. Exorcizando minha solidão, medo e morte. Doei-me intimamente como notas desprendidas de um piano afinado. Reservei-me dentro de você, como partituras de sua melhor canção. Elnora, talho tais lembranças em cartas póstumas de nosso momento. Deixo-as em garrafas solúveis que se desfazem nas espumas das encostas das praias correio. E a cada pôr-do-sol, você resgata os fragmentos corais de minhas cartas, construindo um mosaico de trechos desconexos que anexam ao seu corpo como algas marinhas. Sim, minha querida, as algas são folhas de papeis mortas que viajam pelo mar em buscar do seu destinatário. E o meu destino se bordou ao teu, formando uma tela de renda arco-íris. Guio-te por este arco-íris para mostrar os vestígios de meus sentimentos, emoções e coração que ocultei em cadernos rabiscado por estranhas mãos. Ausento-me para melhor transcrever você nas entranhas arredias do meu corpo. Insiro tua presença a fundo na minha alma, comprimindo-a no meu corpo para melhor aconchegar você em mim. Habitamos-nos. Assim, trago um tesouro em mim. E um vento de outono assobia entre as árvores nessa tarde nostálgica de junho.

(Alan Félix)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

”Amo-te tanto! E nunca te beijei...

E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei.

Guardo os versos mais lindos que te fiz!”

(Florbela Espanca)


Hoje fiquei na varanda fumando cigarro, sentei na velha cadeira de madeira, li o poema “os versos que te fiz” de Florbela Espanca. Em alguns instantes, flagrei meus pensamentos fluindo da ponta dos dedos. E conseguia ler em braile tudo que o pensamento queria expressar em letras mortas. Traduzi em versos, estrofes e poemas, toda palavra que invernava em mim. Palavras sonolentas que ficava no meu lábio, que aguardava seus beijos poéticos amorosos para despertar. Fazendo do seu lábio campestre, minha moradia. Um lábio vasto, vermelho das tulipas que o cobria. Tão vermelho que seus beijos eram rubros e ardentes como o sol que é acalmado pelo mar em seu pôr. A calma eruptiva que emerge no entrelaçar dos nossos lábios. Os nossos lábios a tempo não murmuram entre si. O tempo não sente a amabilidade um do outro. O abraço comprimido das bocas no choque imaginário do amor. Meu amor, espero pelos versos não escritos, os sonetos inacabados, os haicai minúsculos que está em seu beijo. Encontrar o labirinto infinito que transparece nas mordidas sutis dos meus dentes. O beijo compositor que se inspira nas linhas delicadas do amor que tenho por ti.


(Alan Félix)


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cartas sem destino...


Querida Elnora,

O dia está ensolarado como o campo de girassóis daquela cidade que andávamos nas tardes de céu damasco. Nesta noite tive um sonho. Sonhei com você beijando meus lábios de gardênias, e um perfume exalava de sua boca aromatizando meu corpo, pintando o espaço vazio do meu sonho com as cores do perfume que desprendia da sua boca. De repente, o céu tornou-se uma miscelânea de perfumes, cheiros, aromas e cores. Bailávamos como vento das pétalas de cerejeiras. E voamos pelos ares como idéias soltas do nosso pensamento. Acordei, e num gesto forte de quem nasce do sono, gritei por seu nome. As paredes do quarto estremeceram, os porta-retratos se assustaram. E quando percebi a vizinhança acordou. O bairro acordou. A cidade acordou. O mundo acordou. E todas as palavras adormecidas nas linhas das paginas quentes, acordaram, vieram ao meu consolo. O mar de palavras envolveu meu quarto, tatoou meu corpo com seu nome. E o seu nome gritou em minha pele, e aquele arrepio ergueu-se como torre. A torre foi meu alicerce para subir o mais alto que pudesse. E escrevi no céu meus dizeres para você, com um cometa que pairava ali. E as estrelas formaram letreiros luminosos, parecia vaga-lume caçando seu lume, seu olhar. E acordei com o relógio apitando 07 horas.


(Alan Félix)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Murmúrio II



Naquela noite o descaso
atrapalhava de tragar você.

A fumaça mais excitante
que inspirava para o pulmão.

Tossia você como à tragada do primeiro fumante,
logo tornou-se o meu cigarro mais delirante.

(Alan Félix)